***22 anos de Magistério****

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Hoje estou filosófica!!

Tem coisa mais gostosa que um abraço? Daquele bem apertado, bem forte, de nos fazer fechar os olhos e sorrir sem sentir? É essa a sensação de leitura do Livro dos Abraços, do uruguaio Eduardo Galeano. O livro é um prato de pequenas histórias, passagens de vida. Fatos que normalmente nos passam despercebidos, que na maioria das vezes tratamos como acontecimentos rotineiros. Que os são, na verdade.

No momento em que reunimos tudo isso, que imprimimos nossa memória e a compartilhamos, é possível compreender quanta força possui os acontecimentos do dia-a-dia, quanto eles nos dizem e nem sempre apreendemos. É daquelas obras pra ler a vida inteira, pra ler na ordem ou fora dela; para começar do fim, para terminar no começo. Para ler em qualquer lugar. Para reler continuamente.

Cada história tem um significado, um sentimento. É vida. São pequenos momentos contados, cada um deles, em poucas linhas. Mas a profundidade é imensa. Tão grande que simplesmente não tem fim. A gente entra nas histórias, reflete, imagina por quantas situações corriqueiras já passamos e tão pouca importância demos. E eu ficava me perguntando, a cada nova linha, quanta coisa linda…

Passagens

Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo“.

Somos, enfim, o que fazemos para transformar o que somos. A identidade não é uma peça de museu, quietinha na vitrine, mas a sempre assombrosa síntese das contradições nossas de cada dia“.

Os índios são bobos., vagbundos, bêbados. Mas o sistema que os despreza, despreza o que ignora, porque ignora o que teme. Por trás da máscara do desprezo aparece o pânico: estas vozes antigas, teimosamente vivas, o que dizem? O que dizem quando falam? O que dizem quando calam?

Os Ninguéns

Eduardo Galeano

As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.

Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:

Que não são, embora sejam.

Que não falam idiomas, falam dialetos.

Que não praticam religiões, praticam supertições.

Que não fazem arte, fazem artesanato.

Que não são seres humanos, são recursos humanos.

Que não têm cultura, têm folclore.

Que não têm cara, têm braços.

Que não têm nome, têm número.

Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.

Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

Clicar aqui para baixar o livro completo:


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