***22 anos de Magistério****

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Livros bíblicos


Devemos trabalhar a pluralidade religiosa na sala de aula, e não religião. a sala de aula é um lugar plural e todos os nossos alunos merecem respeito e aceitação da sua cultura. Desde cedo o educando precisa conviver com as diferenças religiosas e respeitá-las. Hoje estou postando Histórias bíblicas, mas isto não quer dizer que não falarei de outras religiões e crenças. A minha formação pessoal é Batista e respeito todas as crenças.
A seguir:A criação, O dilúvio,Davi e Golias,Os discípulos de Jesus, Jonas,Josué,Multiplicações de pães,Nascimento de Jesus,Filho pródigo,Paulo,Ressurreição de Jesus, Dalila e Sansão. abaixo:
para baixar clique no link


Historias bíblicas.rar




Artigo:
Pluralidade e o diálogo entre as religiões

Percebe-se que nos últimos dez anos as grandes tradições religiosas vêm tomando consciência da necessidade de estabelecer relações mútuas que favoreçam a convivência harmoniosa entre elas. Os contextos de globalização, e de comunicação, bem como as relações internacionais promovem a imigração de pessoas qualificadas em diversas áreas, no Oriente e Ocidente, e facilitam a integração de etnias e religiões.

Esta realidade trouxe um novo tema à Sociologia, à Antropologia e às Ciências da Religião: a co-existência cultural, que por sua vez, requer a prática do diálogo inter-religioso, introduzindo um cenário de diálogo entre as diferentes religiões no espaço brasileiro, tanto no âmbito do ensino religioso como na convivência social.

Estabelecer a “unidade na diversidade e diversidade na unidade” era uma perene inquietação dos filósofos indianos desde os tempos antigos. Devido às invasões estrangeiras, desde os arianos até a colonização inglesa, os indianos aprenderam a conviver com o diferente e essa convivência se reflete na arte, musica, dança e na comida.[1] O Egito antigo e o mundo hebraico do Antigo Testamento também experimentaram essa realidade religiosa diversificada, mas não tiveram a mesma sorte da convivência pacífica. A história medieval também nos mostrou as guerras e a tendência de estabelecer a supremacia de uma religião sobre a outra. A atitude de subjugação de uma crença gerou desconfiança entre povos de diferentes culturas e possibilitou as atividades missionárias incessantes a fim de converter as pessoas para uma outra religião. O ‘diverso’ foi esquecido e a reflexão atual nos leva a lançar o olhar para este diverso, conferindo-lhe importância e integrando-o dentro das múltiplas dimensões da vida humana.

Apresentaremos neste artigo brevemente as causas básicas dessa pluralidade religiosa, e como essas causas construíram universos religiosos diferentes e por fim veremos de que forma essa diversidade seria uma riqueza para construir as novas perspectivas para uma vivência harmônica na diversidade existente entre as etnias e culturas.

Pluralidade, condição do saber humano

O fator geográfico é a leitura chave para o entendimento da pluralidade encontrada nas culturas, etnias e religiões. A própria terra apresenta as regiões de maneira diversa, como por exemplo: floresta, terra fértil, litoral, deserto e montanha. Cada uma proporcionando maneiras de ver, sentir e agir diferentes. Encontramos modos diversos de ver o mundo, de significar a vida e de formar comunidades. A diversidade cultural pode ser analisada sob o viés antropológico, devido a própria condição humana, que varia conforme o meio geográfico onde se encontra. O habitante do deserto, por exemplo, adquire características diferentes de quem vive em terra fértil. Cada povo se adapta à sua realidade e essa construção em múltiplas dimensões chama-se cultura e, por sua vez, encerra a religião.

Dentre as inúmeras definições de cultura, recorremos à do antropólogo E.B. Tylor, no livro Primitive Culture, citado por Thomas H. Eriksen e Finn S. Nilson (2007, p. 35): “Cultura, ou civilização, tomada no sentido amplo, etnográfico, é o complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade” (TYLOR 1958 [1871], p. 01).

Ver e ouvir a presença do divino

Se as condições geográficas inspiraram as culturas, também os universos religiosos surgiram da experiência empírica dos povos, influenciados pela natureza. As experiências empíricas do universo religioso das regiões do deserto e da terra fértil dominaram o mundo e constituíram seus próprios modos de construir a religião. Enquanto a terra fértil enfoca o ato de ‘ver’, o deserto afirma o ‘ouvir’.

No Oriente, por exemplo, a China e a Índia, situadas em regiões férteis, elaboraram a partir das experiências agrícolas os conceitos religiosos como a reencarnação e a teoria do carma do Hinduísmo; dukha e samsara do Budismo e o caminho natural das religiões chinesas.

Por outro lado, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islã, originados no deserto, dão ênfase ao firmamento e localizam Deus nos céus distantes, diferente do Deus mais próximo e imanente encontrado nas religiões orientais. Isso se deve ao fato de que, como diz Gheorghiu: “os nômades do deserto vivem entre dois infinitos desertos. O infinito da areia, a seus pés, e sobre si o infinito azul do céu” (GHEORGHIU, 2002, p. 12). Essa experiência empírica deve ter influenciado fortemente a construção do conceito de ressurreição, que não existe nas religiões do Oriente.

É notável a diferença na linguagem do conteúdo religioso. As teologias oriundas da terra fértil se expressam mais pela imagem, que é elemento primordial da espiritualidade e constitui, talvez, a mais antiga simbolização humana da presença do divino. No ‘ver’ está compreendida uma expressão popular da terminologia hindi, a língua nacional da Índia: Darsan déna e darsan léna (ver a divindade e ser visto por ela).

A cosmovisão do deserto, por sua vez, firmou-se mais na palavra e na poesia, pois o deserto não oferece variedade de imagens, por isso toda a esperança de vida é investida no céu, seja ele azul ou estrelado. O ser divino é considerado como Palavra, portanto o desenvolvimento da espiritualidade dessas tradições religiosas parte do ato de ouvir.

Ao longo dos séculos, por meio das migrações, os universos cultural-religiosos se encontraram e confrontaram suas diferenças, o que provocou tensões e até conflitos. Cada religião pensava ser mais verdadeira do que a outra e tentava difundir sua mensagem em ambientes culturais diversos da própria origem. A observação do resultado dessa missionariedade leva a três conclusões:
a) uma crença original assume diferentes faces em função da cultura na qual é inserida;
b) em uma cultura religiosa dominante, a crença reveste-se das características da religião dominante;
c) em uma cultura submissa, a crença impõe as suas características (ANDRADE, 2007, p. 223).

Nova convivência religiosa

A atual co-existência pluralista oferece novas formas de compreensão das tradições religiosas. Portanto a experiência do pluralismo religioso se torna um apelo à descoberta e à afirmação da própria identidade. Diz Paul Knitter: “Para trilhar nosso próprio caminho de fé, precisamos caminhar com pessoas de diferentes caminhos” (KNITTER, 2002, p. xi). Dez anos antes de Knitter, Bede Griffiths já havia alertado para a dimensão plural do caminho religioso: “além de ser cristão, eu preciso ser um hindu, um budista, jainista, zoroastrista, sikh, muçulmano e judeu. Só assim poderei conhecer a Verdade e encontrar o ponto de reconciliação em todas as religiões” (GRIFFITHS, 1992, p. 83). Ou como Raimon Panikkar descreve sua trajetória, após sua formação acadêmica nas universidades indianas e americanas: “Eu ‘parti’ como cristão, ‘encontrei a mim mesmo como hindu, e ‘retornei’ como budista, sem nunca ter deixado de ser cristão” (KNITTER, 2002, p. 126).

Contexto atual: harmonia entre uno e diverso

O mundo contemporâneo enfrenta dificuldade em descobrir o significado do todo, devido à automatização e o individualismo da vida moderna. Temos muita pressa, e nossa vida gira na órbita do utilitarismo, o que nos faz pessoas fragmentadas, capazes de vivenciar apenas frações do universo em que nos inserimos.

A experiência do ‘nós’ fundamenta toda comunicação humana, pois aponta para um envolvimento em múltiplas dimensões: família, grupo étnico, cultura, religião, sociedade... Ao Ensino Religioso importa conhecer os mecanismos utilizados para obter uma visão do todo. Sabemos que nenhuma religião possui a visão total de Deus. A grandeza divina é revelada através de fragmentos. E quando um fragmento se encaixa com outro e unimos os nossos pontos de vista nos aproximamos do todo.

A abordagem proposta pelo Ensino Religioso é uma forma de unir diversos pontos de vista de uma única realidade. Cada parte dessa diversidade é completa em si e por si, no seu contexto. Mas quando confrontada com a totalidade, encontra-se como um fragmento. Justamente esse confronto possibilita a experiência do diálogo inter-religioso. Qualquer ensino, seja religioso, cultural ou individual, necessita de um movimento. No âmbito pessoal, sair de si em direção ao outro e no âmbito cultural sair de uma cultura em direção à outra.

Conclusão

Para concluir gostaria de apresentar uma pequena fábula dos gurus indianos que trata do objetivo de todas as religiões.

Em uma aldeia havia um mestre religioso, que falava sobre o propósito das religiões. Um dia uma grande multidão, formada por diversas tradições religiosas, reuniu-se para escutá-lo. Então um homem na multidão lhe perguntou. “Mestre, qual é o objetivo de todas as religiões?” O mestre lhe respondeu: “como a água tem sua fonte no topo da montanha e ela transforma-se em diversos rios fluindo até ao mar, da mesma forma o único Deus é visto por diversos ângulos pelas pessoas diferentes. Assim as diversas religiões são criadas ou fundadas pelos seres humanos, mas cada religião tem um propósito de chegar a um único Deus. Somente as regras é que são diferentes".

Referências bibliográficas

AMALADOSS, Michael. Pela estrada da vida: prática do diálogo inter-religioso. Paulinas: São Paulo, 1995.
__________. Rumo à Plenitude: Em busca de uma espiritualidade integral. São Paulo: Edições Loyola, 1997.
ANDRADE, Joachim. Shiva abandona seu trono: destradicionalização da dança hindu e sua difusão no Brasil. Tese (Doutorado em Ciência da Religião) – PUC/SP, 2007.
AYOUB, Mohamoud. Abraão e seus filhos: uma perspectiva muçulmana. In: Herdeiros de Abraão, o futuro das relações entre muçulmanos, judeus e cristãos. São Paulo: Paulus, 2007.
ERIKSEN, Thomas e NILSON, Finn. História da Antropologia. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2007.
GHEORGHIU, V. A Vida de Maomé. Coleção História Narrativa, Edições 70, 2002.
Griffiths, B. Retorno ao centro, o conhecimento da Verdade: o ponto de reconciliação de todas as religiões. São Paulo: IBRASA, Instituição Brasileira de Difusão Cultural LTDA, 1992.
HINZE, Bradford e OMAR, Irfan. Herdeiros de Abraão: o futuro das relações entre muçulmanos, judeus e cristãos. São Paulo: Paulus, 2007.
KNITTER, P. Introducing Theologies of Religions. New York: Orbis Books, Maryknoll, 2002.
PANIKKAR, Raimon. Ícones do Mistério: A experiência de Deus. São Paulo: Paulinas, 2007. ________________________________________


[1]. Observe-se essa convivência na Índia na fusão da arte persa e hindu no monumento Taj Mahal; no nível da arte, no monumento Taj Mahal encontra-se a arte persa e ao mesmo tempo a arte hindu; na música, uma fusão entre hindu e árabe e, por fim, na comida, onde encontram-se todos os sabores em um prato só, apontando para uma integração de todas as culturas tanto as nativas como as invasoras.
Joachim Andrade ,
É natural da Índia, radicado no Brasil há 15 anos. Mestre em Antropologia Social e doutor em Ciências da Religião. É sacerdote católico, autor de diversos artigos científicos e coordenador do Ecumenismo e do Diálogo Inter-religioso na Arquidiocese Católica Romana de Curitiba (PR).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

©Template designer adapted by Liza.