***22 anos de Magistério****

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Portfólio Educacional Reflexivo

Considerando que a formação escolar necessita ser repensada e refletida, pelo fato de os valores sociais e os saberes disciplinares estarem mudando, a educação atual necessita respeitar as inteligências múltiplas dos seus educandos. Assim, para ser coerente com essa visão uma modalidade de aprendizagem e avaliação, advinda do campo da arte: o portfólio, desponta como proposta promissora. O seu uso em educação constitui uma estratégia que procura atender à necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a relação ensino-aprendizagem, assegurando aos alunos e professores uma compreensão maior do que foi ensinado e, desse modo, índices mais elevados de qualidade.


Nos últimos tempos, mais precisamente na última década, ocorreu uma série de mudanças nas concepções de ensino e aprendizagem, resultando em repercussões importantes no campo das práticas das avaliações escolares. É sabido que a concepção de saber como acumulação descontextualizada de informação, do ensino apenas como transmissão de mensagens codificadas, e de aprendizagem como repetição escrita do conteúdo transmitido pelo professor e pelo material didático não têm mais lugar em propostas de educação que levem o ensino a sério. O saber não pode mais ser considerado como algo estático, e muito menos ser exclusividade da escola. É muito grande o volume de informações que ocorrem e são difundidas com rapidez a cada momento pelos meios de comunicação.

Nesse sentido, Hernández (2000) aborda essa questão, ressaltando que essas mudanças foram reconhecidas pela maioria das propostas curriculares realizadas desde os anos setentas. Propostas que enfatizam a forma de avaliar a aprendizagem para poder: “Levar adiante uma avaliação da aprendizagem que pudesse dar conta e estar em consonância com as finalidades educativas” (p. 163-164). Isso significa que a proposta atual de educação é a de tornar a evolução a peçachave do ensino e da aprendizagem, permitindo que os professores tenham clareza do que seus alunos aprenderam e que os alunos tenham uma referência do que necessitam aprender.

Nesse contexto de mudanças nas concepções de ensino e aprendizagem, surge como proposta uma modalidade de avaliação advinda do campo da arte: o portfólio. Nos Estados Unidos da América, o uso do portfólio no meio educativo adquiriu um significado tão importante, que levou a Association for Supervision and Curriculum, a considerá-lo como uma das três metodologias de topo, atualmente em uso naquele país (Sá-Chaves, 2000). Para Seldin & cols. (1998), o portfólio tem sido usado no Canadá, por quase 20 anos, onde é chamado de dossiê de ensino e, atualmente, tem sido adotado ou testado por mais de 1.000 universidades nos Estados Unidos.

Hernández (1998) define portfólio como sendo um “continente de diferentes classes de documentos (notas pessoais, experiências de aula, trabalhos pontuais, controle de aprendizagem, conexões com outros temas fora da escola, representações visuais, etc) que proporciona evidências do conhecimento que foi construído, das estratégias utilizadas e da disposição de quem o elabora em continuar aprendendo” (p. 100). Vilas Boas (2001), referindo- se ao processo de avaliação formativa, sugere o uso do portfólio ou pasta avaliativa como um instrumento eficaz para realização de tal avaliação. Visto que reúne as produções dos alunos e professores, para que, eles próprios e outras pessoas conheçam seus esforços, seus progressos e suas necessidades em uma determinada área.

Sá-Chaves (2000) referem-se ao portfólio reflexivo como sendo instrumentos de diálogo entre educador e educando, que não são produzidos só no término do período para fins avaliativos. São continuamente (re)elaborados na ação e partilhados de forma a recolherem, em tempo útil, outros modos de ver e de interpretar, que facilitem ao aluno uma ampliação e diversificação do seu olhar, levando-o à tomada de decisões, ao reconhecimento da necessidade de fazer opções, de julgar, de definir critérios, além de permitir as dúvidas e conflitos para deles poder emergir mais consciente, mais informado, mais seguro de si e mais tolerante quanto às hipóteses dos outros.

Nesse sentido, pode-se entender que Sá-Chaves (2000) também compreende o portfólio como sendo um instrumento de estimulação do pensamento reflexivo, facilitando oportunidades para documentar, registrar e estruturar os procedimentos e a própria aprendizagem. O portfólio evidencia ao mesmo tempo, tanto para o educando quanto para o educador, processos de auto-reflexão. Com isso, ele possibilita o sucesso do estudante que, em tempo, pode transformar, mudar, (re) equacionar sua aprendizagem, em vez de simplesmente saber sobre ela, ao mesmo tempo em que permite ao professor repensar sua prática e suas condutas pedagógicas em vez de somente fazer algum juízo, avaliar ou classificar o processo de ensino-aprendizagem do aluno.

Aprofundando um pouco mais o pensamento de Sá- Chaves (2000) pode-se observar por meio de suas afirmações que uso do portfólio permite “promover o desenvolvimento reflexivo dos participantes; estimular o processo de enriquecimento conceptual; estruturar a organização conceptual ao nível individual; fundamentar os processos de reflexão para a ação; garantir mecanismo de aprofundamento conceptual continuado; estimular a originalidade e criatividade individuais no que se refere aos processos de intervenção educativa; contribuir para a construção personalizada do conhecimento; permitir a regulação em tempo útil de conflitos, garantindo o desenvolvimento progressivo da autonomia e da identidade; facilitar os processos de auto e hetero-avaliação” (p. 10).

O portfólio é um elemento de auto-reflexão e avaliação segundo Gardner (1994), visto refletir a crença de que os estudantes aprendem melhor e de uma forma mais integral. Faz com que o estudante tenha um compromisso com as atividades que acontecem durante um período de tempo significativo e que se constróem sobre conexões naturais com os conhecimentos escolares.

Segundo o editor da obra “Manual de Portfólio” de Shores e Grace (2001) todos se beneficiam ao desenvolver bons portfólios, pois esse tipo de avaliação aumenta a cooperação e o entendimento entre professores e pais. Ao individualizar as experiências de aprendizagem permite que cada criança possa crescer no seu próprio potencial máximo; possibilita a cada professor a determinação do seu próprio ritmo, encorajando seu desenvolvimento profissional, e acompanhar o trabalho da criança através de diferentes domínios de aprendizagens. Nesse sentido, Shores e Grace (2001) sugerem a aplicação de técnicas de avaliação com portfólio em crianças, afirmando que essas técnicas encorajam o ensino centrado no desenvolvimento infantil. As crianças que desenvolvem o hábito de refletir sobre suas experiências aprendem a definir objetivos de aprendizagem por si mesmas.

Hernández (2000) destaca que a proposta de avaliação portfólio fundamenta-se na intenção de levar adiante uma avaliação que esteja em consonância com a natureza evolutiva do processo de aprendizagem. O que pode ser referendado por De Sordi (2000), quando apresenta o portfólio como uma possibilidade interessante para avaliar a aprendizagem do estudante universitário de modo contínuo e processual, uma vez que reúne sistematicamente as diferentes produções dos alunos e os estimula às mais diversas formas de expressões de suas qualidades. Isso faz com que se rompa com o vício de super valorizar a escrita e a comunicação em situações formais previamente estipuladas pelo professor. De acordo com as considerações trazidas, pode-se afirmar que um portfólio é muito mais que uma reunião de trabalhos ou materiais colocados numa pasta. Além de selecionar e ordenar evidências de aprendizagem do aluno, possibilita, também, identificar questões relacionadas ao modo como os estudantes e os educadores refletem sobre quais os reais objetivos de sua aprendizagem, quais foram cumpridos e quais não foram alcançados.

Hernández (2000) descreve, com clareza, os componentes e todos os passos que devem ser seguidos para a realização de um portfólio, que são: o estabelecimento do objetivo do portfólio por parte do docente; o estabelecimento das finalidades de aprendizagem por parte de cada estudante; a integração das evidências e experiências de aprendizagem; a seleção das fontes que comporão o portfólio e a reflexão do estudante acerca de seu próprio desenvolvimento. Ressalta-se que o estudante deve ter um propósito, ou seja, criar, recolher e organizar todo material que evidencie o seu progresso, de tal forma que demonstre sua avaliação em relação às finalidades estabelecidas. Há, também, que haver um lugar onde será colocado todo o material produzido para o portfólio, que é denominado continente. Esse continente pode adquirir diferentes modalidades, como caixa, cartaz, pasta, cd-rom, etc.

Collins (1991) distingue quatro tipos de evidências que podem fazer parte de um portfólio: os artefatos que são documentos produzidos durante o trabalho do curso e vão desde as atividades em sala de aula até os trabalhos realizados por iniciativa própria dos alunos ou por sugestão do professor; as reproduções que são documentos que incluem acontecimentos que normalmente não se recolhem em sala de aula, como gravações, impressão de página de internet, etc; os atestados que são documentos sobre o trabalho do aluno, preparados por outras pessoas, como os comentários realizados pelo professor e as produções que são os documentos especificamente preparados para dar forma e sentido ao portfólio e incluem três tipos de estratégias: explicação de metas; as reflexões e as anotações.

Perrenoud (1997) afirma que a avaliação da aprendizagem escolar tem sido um mecanismo do sistema de ensino que converte as diferenças culturais em desigualdades escolares. Observando a ansiedade demonstrada pelos alunos do curso de Pedagogia diante da avaliação, questionou-se a forma como vem sendo trabalhada a avaliação nos cursos de formação de professores. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi propor como forma de avaliação o sistema de portfólio, identificando, também, se houve melhora e aceitação dos alunos quanto a esse método.



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